sábado, 7 de novembro de 2009

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Do túnel do tempo, de 2006.
Sinto esses escritos como se tivessem sido criados hoje.



Eu sei que algum sorriso que eu sorri vai ficar perdido no espaço.
Que algum lugar em que eu passei, não voltarei a passar.
Que alguém que eu vi ontem, ficarei meses sem ver, até receber a notícia de que a pessoa teve um filho ou morreu.
Tenho a constante inconstante de não demonstrar o que sinto, por essas fatalidades que de tempos em tempos acontecem.
Mas sinto tanto, a todo o momento que seria impossível demonstrar ao certo o que se passa.
Sinto tanto, que me deixo paralisar.
Sinto medo, sei dos perigos que me esperam lá fora, sei das minhas fraquezas aqui dentro, então me paraliso.
E vou passando pelos dias numa espécie de piloto automático, diariamente tentando esconder de mim mesma que tanto sinto e pouco faço.
Tentando esconder de mim mesma que estou perdendo tempo, que estou vendo a vida escorrer na minha frente, e por covardia não molho mais que meus pés.

Sinto cada acorde de uma música, vejo cada tonalidade de uma planta, capto cada movimento de um animal.
Sei descritivamente cada coisa que passa aqui dentro, o porquê das minuciosas questões.
Cada minuto de saudades que sinto, é como se fosse o dobro.
Não sei viver sem sentir saudades, não sei viver sem lembrar, guardar e reviver dentro de mim os momentos e os seres.
A saudade é minha forma de amor.
Delicada, discreta, bela, rara e intensa.
Sinto saudades da semana passada, do dia de ontem. De hoje de manhã, do que nem aconteceu ainda.
Sou castrada pela saudade.

Amo cada segundo daquelas fragrâncias que só eu sinto o perfume.
Amo secretamente, por que assim ninguém destrói o amor e eu tenho todo o tempo do mundo para respirá-lo.
Há coisas que existem para mim, que são segredos.
Na verdade ás vezes eu acho que sou como um segredo.
Como uma fragrância que poucos sentem o cheiro.
Não necessariamente algo belo, fascinante e valioso, mas na minha individualidade existencial, um segredo.
Que no geral não faz questão de ser desvendado.
E nem exposto.
É que polegares opositores são complicados para mim, eles podem furar meus olhos, podem mandar o dedo indicador ser apontado na minha cara, sabe como é.
E eu já nasci com dois, já é conflito suficiente.
Creio que as quatro patas compensem mais, creio que elas sejam mais verdades.

Sempre me questionam o porquê de Mulher Mosca.
E aconteceu uma vez, de antes de qualquer explicação da minha parte, ele dizer: “Mulher Mosca .. Mulher que sai de casa voando. Mulher que é mais sensível que uma Mosca. “
Eu me surpreendi, mas ele me faz parte, então me embriago com essas palavras.

Borboleta selvagem e sensível.
Ego, tão grande e ás vezes não existe.

Diariamente me confundo dentro de mim mesma.
A cada esquina que dobro dou de cara com alguém novo.
A cada momento alguma criação desabrocha e alguma se muda.

Dentro de mim nasço e morro diariamente, sofro e contemplo meus partos.

Maria devora-se a si mesma.



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